Caminhoneiros, operadores de máquinas agrícolas e todos que percorrem de carro este imenso país tropical fazem do ar-condicionado sobre rodas um manancial de oportunidades
Por Wagner Fonseca / FONTE: BLOG DO FRIO
Oficinas lotadas, com seus proprietários tão ansiosos em completar a equipe de refrigeristas, quanto os clientes em voltar a dirigir com a segurança e o conforto trazidos pela temperatura adequada dentro da cabine.
Isso está acontecendo em vários pontos do Brasil, principalmente onde não há vidro aberto capaz de aliviar o calor a cada ano mais forte, em virtude até mesmo do aquecimento global que o próprio AVAC-R tem-se empenhado em combater.
Dentre os que corroboram tal realidade está um nome dos mais conhecidos na área, Sérgio Eugênio da Silva, da paulistana Super Ar. Apenas em setembro último, ele percorreu mais de 15 mil quilômetros, ao longo de 40 cidades, para falar justamente sobre as melhores práticas neste campo, um público ávido por saber mais a respeito de fluidos refrigerantes e afins.
Presidente do Departamento de Ar Condicionado Automotivo da Abrava, o professor Serginho, como é chamado no meio, vivencia como poucos a causa dessa falta de mão de obra em um segmento que afirma vir crescendo pelo menos cinco vezes mais que o Produto Interno Bruto (PIB).
Afinal, o contingente de refrigeristas dispostos a se especializar no segmento veicular ainda é mínimo – não mais que 0,5%, segundo Serginho –, mesmo havendo excelentes oportunidades no mercado de veículos comerciais leves e pesados, com destaque para o agronegócio, que não para de crescer em diversas localidades do País.
Vários ‘Brasis’
Em regiões como a Centro-Oeste, por exemplo, o experiente profissional – que já soma mais de 30 anos no setor – chama a atenção para o fato de os operadores de tratores e implementos agrícolas em geral estarem seguindo o exemplo dos caminhoneiros, que simplesmente não saem do lugar sem o ar-condicionado em ordem.
“O próprio empresário já percebeu benefícios como a redução no índice de acidentes causados por cochilos ao volante e o aumento da vida útil dos veículos, ao serem guiados por motoristas que trabalhem mais felizes”, justifica Serginho.
Nem mesmo os problemas econômicos agravados pela pandemia de covid-19 teriam afetado exageradamente esse nicho. “Haja vista a última Agrishow, que bateu todos os recordes de público e negócios”, acrescenta o professor.
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Já entre os leves, a situação é menos exuberante, a partir do custo relativamente maior representado por um reparo do gênero, que pode alcançar até 20% do preço do veículo. “Chega facilmente a R$ 4 mil uma troca de compressor, condensador e uma limpeza”, exemplifica.
Até a localização geográfica do cliente interfere em sua disposição de consertar o ar-condicionado do carro sempre que necessário, mesmo que resida numa metrópole como São Paulo, onde o calor vem imitando o do Norte e Nordeste, em certos períodos.
Populações predominantemente compostas por assalariados, hoje em boa parte com dificuldade para pagar suas dívidas, tendem a adiar um reparo, o que não acontece quando o ganha-pão depende de cabines bem climatizadas, como ocorre nas áreas rurais. “Numa BR, como a 163, passam cerca de quatro mil caminhões por hora”, justifica o professor.
Novidades
Um componente extra para as boas perspectivas envolvendo a climatização veicular no Brasil é a chegada crescente de novas tecnologias ao País, caso dos sistemas elétricos, cujo funcionamento substitui a força do motor pela utilização de uma bateria extra para fazer o compressor trabalhar.
“Esses equipamentos operam nos caminhões de 24 volts, e apresentam vantagens como dois anos de garantia e a expectativa de cinco anos sem a necessidade de manutenção, assim como um payback (tempo em que o investimento se paga) em torno de 12 meses”, afirma o professor Serginho.
O grande diferencial, contudo, é poder refrescar a cabine enquanto o caminhão está estacionado, inclusive quando o motorista dorme ou descansa, sem o ruído incômodo do motor, tampouco a poluição do ar e, muito menos, sobrecarga da parte elétrica do veículo, pois o sistema utiliza uma bateria à parte.
“Um caminhão estacionado com o motor ligado gasta, em média, seis litros de óleo diesel por hora”, observa Edson Almeida, promotor de vendas do Grupo Paccini, empresa com 40 anos de mercado e hoje atuante em cinco estados brasileiros.
Segundo ele, características assim estimulam a decisão de compra de um equipamento cujo custo oscila entre R$ 6 mil e R$ 7 mil, mas cumpre um função importante para quem tem no veículo o seu próprio negócio.
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Parceira da fábrica americana Bergstrom, a empresa comercializa, além desses modelos – que também são conhecidos como parking cooler –, aparelhos para quem não possua ar-condicionado no caminhão e equipamentos exclusivos para o setor agrícola.
Ainda de acordo com Almeida, a Paccini atende atualmente 85% da frota nacional e importada de veículos pesados, sendo que novos kits de vedação para teto poderão ser desenvolvidos pela indústria norte-americana, à medida que o mercado local o requeira, e isso deverá ampliar sensivelmente a presença do produto no País.
Mas nem só de veículos pesados vive o otimismo de quem atua no segmento de ar condicionado veicular, conforme demonstra Brian Caldas, diretor da BRN.
Há oito anos no mercado, a empresa de São Luís (MA) também trabalha com linha leve e estende seu raio de ação, tanto no atacado quanto no varejo, para os estados do Pará e Piauí.
Embora atualmente apenas cerca de 5% de suas vendas de peças e componentes sejam para sistemas elétricos, ele acredita que esse quadro se modifique rapidamente.
“Basta ver a velocidade com que os veículos híbridos vêm se transformando em 100% elétricos”, justifica Brian, para quem incentivos fiscais, como IPVA menor em vários estados, também devem contribuir bastante para esta expansão.
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