Seu desejo quase compulsivo de saber sempre mais tem refreado impulsos machistas nas empresas do setor pelas quais a engenheira Jéssica Costa tem passado
Por Wagner Fonseca / FONTE: BLOG DO FRIO
Projetos, orçamentos e, atualmente, departamento comercial, são algumas das áreas pelas quais essa paulistana de apenas 32 anos tem exercitado duas de suas maiores paixões: o segmento de instalação de sistemas centrais de ar condicionado e ter sempre no horizonte novos e promissores desafios.
Tanto é que, nos últimos 12 anos, ela passou por quatro empresas do AVAC-R – duas delas fabricantes – com a mesma desenvoltura com a qual sempre passou por diferentes bancos escolares, movida pelo ímpeto de esquentar lugar, apenas e tão somente, onde percebesse não estar perdendo tempo.
Foi movida por essa personalidade resolvida que Jéssica não se limitou a concluir sua graduação em engenharia mecânica, habilitação que estendeu para o campo da segurança no trabalho, tendo ainda feito MBA em gestão de vendas e intercâmbio no Canadá, currículo vasto que também lhe abriu as portas para o magistério.
No setor de ar condicionado – onde ela se encontra prestes a completar um mês no seu mais novo emprego – estar no lugar certo para Jéssica significa passar um bom tempo em campo, “tocando obras”, inclinação natural que já levou a engenheira a percorrer boa parte do País e também a morar em Brasília, antes de retornar ao bairro paulistano do Brás, onde atualmente reside.
A engenheira e professora Jéssica Costa também é passista da escola de samba paulistana Rosas de Ouro | Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
Desafios superados
Que não seria fácil obter destaque na profissão sendo mulher, Jéssica imaginava, mas ao entrar na faculdade, de onde sairia com o diploma em 2014, começou a ter mais certeza disso.
Ter sido sempre a mais estudiosa da família, com notas excelentes nas escolas públicas por onde já havia passado, começou a se mostrar insuficiente para lhe assegurar o almejado sucesso dali em diante.
Na classe da universidade, com mais de cem alunos, havia apenas três mulheres, contando com ela, sendo que uma delas acabaria desistindo antes do término do curso.
“As campanhas, as dinâmicas, tudo foi feito pensando nos homens no meu curso”, relembra Jéssica, que atribui papel fundamental à sua personalidade ousada na superação daquele momento, até mesmo na qualidade de virginiana, acostumada a colocar as coisas no seu devido lugar, literalmente.
A começar pela parte de seu íntimo que acabou absorvendo de forma diferenciada as muitas palavras de desdém e desmotivação que ouviu. “Elas acabaram tendo um efeito contrário em mim, pois, ao invés de me pôr para baixo e desanimar, inclusive ao longo de toda a minha carreira, só fizeram reforçar minhas forças”, garante ela.
Mesmo reconhecendo que a misoginia já foi pior no País e, especificamente, no próprio AVAC-R, Jéssica ressalta a necessidade de não se confundir firmeza com soberba nessa luta diária para mostrar que a mulher nada deve ao homem no exercício da profissão.
Experiência, aprendizado e, antes de tudo, humildade integram o tripé considerado essencial para o êxito, seja qual for o gênero em questão, segundo ela. “Nunca deixando o ego tomar conta”, reforça, até mesmo para se impor na medida certa no ambiente de trabalho, ou seja, sem arranhar o bom relacionamento com a equipe.
Além disso, Jéssica aposta na diversidade em todas as suas modalidades como forma de se enriquecer a experiência de vida, e os próprios resultados das empresas, frente a opiniões e pontos de vista variados, seja numa campanha de marketing ou qualquer ação com visibilidade pública.
Já às colegas que ainda se encontram no começo dessa jornada, a engenheira faz questão de recomendar: “O melhor jeito de se provar qualidade, independentemente das questões de gênero, é se dedicando nos estudos, pois um diploma não apenas colocado à mesa – mas sim obtido por mérito e esforço -, é fundamental para se iniciar a conquista do devido respeito profissional”, conclui.
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