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Estão avançando pelo menos três ferrovias que poderão se complementar no futuro. Pernambuco pode ficar de fora desta integração, caso não seja implementado o trecho da ferrovia Salgueiro-Suape.

Ângela Fernanda Belfor

Jorge Jatobá - ferrovia
O economista Jorge Jatobá diz que Pernambuco pode ter um gap logístico, caso não concretize um ramal ferroviário ligando o Sertão ao Porto de Suape. Foto: Arthur de Souza/ME

Nesta semana que está acabando, muito se falou da desistência do Grupo Bemisa em construir um ramal ferroviário, ligando o Sul do Piauí, o Sertão de Pernambuco e o Porto de Suape. Existem pelo menos três ferrovias em execução que poderão complementar a sua atuação no futuro. Para Pernambuco participar disso, é necessário que seja implementado um trecho ferroviário entre Salgueiro e Suape. “Poderá ocorrer um gap de logística em Pernambuco e alguns estados vizinhos, caso não se concretize o ramal ferroviário ligando o Sertão de Pernambuco ao litoral”, adverte o economista e sócio diretor da Consultoria Ceplan, Jorge Jatobá. 

Este gap afetaria também estados como Paraíba e Alagoas, que também teriam no ramal pernambucano a ferrovia mais próxima para fazer o transporte das suas mercadorias e matérias-primas.  O transporte por ferrovias é, em média, 30% mais barato do que o rodoviário e isso significa que quem ficar sem ferrovia terá um custo mais alto para transportar mercadorias e matérias-primas.

Este “gap” de logística surgiria porque atualmente existem pelo menos três ferrovias em construção que, no futuro, vão aumentar a disponibilidade do serviço ferroviário, passando inclusive pelo Nordeste. São elas: a Ferrovia Norte-Sul, a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) e o trecho cearense da Ferrovia Transnordestina. 

“Ao Sul de Pernambuco, teremos a Fiol que está sendo tocada. Também em construção, a Ferrovia Norte-Sul vai integrar o Nordeste oriental ao Nordeste ocidental, incluindo os eixos do agronegócio do Centro-Oeste e do Nordeste, como o Oeste da Bahia e o Sul do Piauí. E ao Norte de Pernambuco, terá o ramal cearense da Transnordestina indo para Pécém, no litoral do Ceará”, cita Jatobá. 

A Fiol terá 1527 quilômetros, ligando a cidade de Figueiropólis, no Tocantins, indo do oeste da Bahia, em Barreiras, até Caetité, no Sul da Bahia e acabando em Ilhéus, litoral sul baiano. Já a ferrovia Norte-Sul será uma grande linha, cortando o Brasil quase ao meio, mas puxando para o oeste, começando no Rio Grande do Sul e indo até o Maranhão, passando por Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás e Tocantins, que faz fronteira com o Maranhão. O trecho cearense da Transnordestina, é iniciado na cidade de Eliseu Martins, no Sul do Piauí e segue até o Porto de Pecém, na Grande Fortaleza. Quando entrarem em operação, as três ferrovias citadas acima poderão fazer as cargas irem do Sul do País ao Nordeste oriental (Maranhão) , utilizando o modal ferroviário em grande parte do trajeto.

“A grande sacada seria a integração da Fiol, com a Transnordestina e a Ferrovia Norte Sul”, comentou Jatobá. Esta integração, segundo ele, também beneficiaria taNordeste oriental os estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte), caso o ramal ferroviário ligando o Sertão de Pernambuco ao litoral também seja implementado.

O trecho Salgueiro-Suape da ferrovia tem cerca de 180 km implantados. Foto: Angela Fernanda Belfort/Movimento Econômico

Um pouco da história que começou em 2006

Inicialmente, a Transnordestina começava na cidade de Eliseu Martins, no Sul do Piauí, seguia até Salgueiro e de lá se dividia em dois ramais, um indo para Pecém, na Grande Fortaleza, e outro que chegaria em Suape, no litoral pernambucano. A empresa que estava à frente das obras, a TLSA desistiu de fazer o trecho pernambucano, devolvendo esta parte da concessão. Depois disso, o governo do Estado, na gestão Paulo Câmara (PSB), encontrou o Grupo Bemisa, que estava interessado em construir o trecho, que iria do Sul do Piauí, na cidade de Curral Novo, até o Porto de Suape. Esta semana, Grupo Bemisa renunciou a autorização que tinha para construir e explorar este texto.

Segundo informações do governo do Estado, a Bemisa continua interessada em fazer o trecho Salgueiro-Suape e o governo do Estado junto com a administração federal estão estudando qual o melhor modelo de gestão/concessão para que o empreendimento saia do papel.

“Pernambuco precisa juntar forças e aproveitar que o presidente Lula está disposto a levar adiante a obra do ramal ferroviário no Estado para equilibrar esse jogo com o Ceará”, defendeu o presidente da Centro das Indústrias do Estado de Pernambuco (Ciepe), Massimo Cadorin. E complementa: “é uma obra fundamental. Atende desde a produção de gesso no Araripe até o porto de Suape, lhe tornando mais completo. Agora, é preciso avançar no melhor desenho para execução da retomada das obras”. 

Segundo Jatobá, a mobilização deveria ser permanente da sociedade pernambucana, usando vários instrumentos para garantir os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 3) lançado há alguns meses pelo presidente Lula. Para o próximo ano, o governo federal vai liberar cerca de R$ 450 milhões, via Orçamento Geral da União (OGU) para o trecho pernambucano da ferrovia. Estes recursos serão gastos em estudos que vão fazer um levantamento do atual estágio da ferrovia. A estimativa é de que são necessários R$ 5 bilhões para concluir o ramal pernambucano.

As obras da Transnordestina foram iniciadas em 2006. Existem cerca de 180 km de ferrovia que foram implantadas no trecho Salgueiro-Suape, que terá 544 km de extensão. Os municípios que tiveram os trechos implantados foram: Salgueiro, Verdejante, São José do Belmonte, Serra Talhada, Calumbi, Flores e Custódia.

No Estado, a ferrovia ligando o litoral ao Sertão beneficiaria vários setores produtivos como o gesseiro, o de avicultura, as frutas irrigadas do Vale do São Francisco, além de possibilitar o surgimento de novos negócios por onde vão passar os trilhos. A ferrovia também poderia levar, de forma mais barata, produtos como o gás natural e combustível para o Sertão.

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