Alternância frequente entre frio e calor chama a atenção de indústrias, comércios e instaladores do HVAC, embora ainda não haja problemas visíveis de abastecimento no setor
Por Wagner Fonseca / FONTE: BLOG DO FRIO
Nesta segunda-feira, 19/8, a temperatura máxima prevista para a capital paulista é de 32ºC. Já no próximo sábado, dia 24, os termômetros devem oscilar entre 11ºC e 18ºC. Tudo isso no mês em que o Dia dos Pais teve a média de 7 graus em São Paulo, menor marca do ano até aqui.
Um segmento da economia que lida, justamente, com frio e calor não poderia ficar alheio a essas manifestações explícitas do quanto o efeito estufa e o aquecimento global já bagunçaram o clima também por aqui.
Como se não bastasse, a cada vez mais certeira meteorologia já avisou: a seca na região Norte tende a ser pior este ano em relação à de 2023, afetando mais ainda o transporte fluvial, por onde ‘sobem’ matérias-primas e ’descem’ aparelhos acabados, rumo às lojas das demais regiões.
Todos esses fenômenos fazem parte de um ‘novo normal’, expressão muito usada durante a pandemia de COVID-19, e que agora retorna para se referir a outra preocupante questão planetária, da qual também é difícil se escapar.
Previsões difíceis
O primeiro elo da cadeia de fornecimento do setor de ar-condicionado, obviamente o mais afetado por tudo isso, são os fabricantes.
Afinal, cabe a eles abastecer os distribuidores de aparelhos para os profissionais de instalação fazerem seu trabalho, seja na casa ou escritório do consumidor.
Em sã consciência, ninguém reclama quando vende mais, seja qual for o motivo, mas também é certo que tudo corre melhor em matéria de planejamento frente a uma demanda mais uniforme ao longo do ano.
“Até recentemente, tínhamos um mercado interno de splits mais previsível, com uma sazonalidade muito bem definida”, relembra Nilson Y. Murayama, Marketing and Product Senior Manager da Daikin Brasil.
No passado, ele diz que as estações claramente demarcadas permitiam prever a sazonalidade do mercado em termos de peças e componentes abastecendo a linha de montagem e a produção de itens acabados.
No entanto, as mudanças climáticas no Amazonas têm gerado grandes desafios, tanto para o abastecimento do Polo Industrial de Manaus, em termos de insumos e produção, quanto para a distribuição dos equipamentos lá fabricados.
Com relação às ondas de calor em plena estação teoricamente mais fria do ano, ele enxerga um misto de oportunidade e desafio, sobretudo, no tocante a produção, logística e gerenciamento de estoque por parte dos varejistas.
”As empresas que conseguirem adaptar suas operações para lidar com o aumento de demanda e mitigar os riscos associados terão uma vantagem competitiva significativa”, estima Murayama.
Proatividade
As chances de novos negócios surgirem na conjuntura climática atual também estão no radar da LG, o mesmo se dando em virtude do fato de o Brasil ainda possuir uma grande demanda reprimida de condicionadores de ar.
Simultaneamente, a indústria identifica uma situação desafiadora nos extremos climáticos que temos enfrentado. ”É necessário um planejamento preciso para atender à alta demanda, evitando rupturas de estoque e garantindo a entrega dos produtos em tempo hábil”, argumenta Leonardo Fogaça.
Além disso, o gerente de produtos de Ar-Condicionado Residencial da LG do Brasil considera crucial a manutenção de qualidade e eficiência dos modelos, mesmo diante de um aumento expressivo na produção.
”Nós estamos preparados para atender diferentes cenários, garantindo que nossa capacidade de produção e a distribuição dos produtos se ajustem às variações do mercado”, diz ele.
Abordagem igualmente proativa para lidar com os desafios de hoje, segundo Fogaça, a LG adota ao embarcar um alto índice de tecnologia e inovação nos seus condicionadores, inclusive com vários recursos de inteligência artificial.
E claro, tudo isso respeitando o próprio meio ambiente do qual se originam os atuais desequilíbrios climáticos, por meio de aparelhos cada vez mais eficientes e sustentáveis.
Comércio e instalação
Na gaúcha Dufrio, uma das maiores distribuidoras da área no país, o sobe e desce dos termômetros ainda não causou estragos “pois o mais preocupante, mesmo, nos negócios costumam ser as oscilaçõesde consumo ditadas pela economia”, afirma o diretor de Compras João Kirst.
“Nossos planejamentos técnico, comercial e logístico permanecem normais, garantindo o abastecimento do mercado e sem a concentração de grande volume de faturamento nos pequenos períodos de tempo em que essas ondas de calor têm durado”, acrescenta o executivo.
Entre os pequenos e médios instaladores, que constituem um contingente de mão de obra volumoso e pulverizado, as coisas também permanecem sob controle.
”Os grandes tendem a sentir mais fortemente a rápida variação de temperatura, mas entre os menores a sazonalidade marcante mesmo ainda é aquela tradicional, determinada por Inverno e Verão”, declara Alan Guimarães.
Técnico experiente, formado pela Escola SENAI Oscar Rodrigues Alves e atuante em refrigeração doméstica, comercial, instalação de ar-condicionado e micro-ondas, ele cita algumas providências importantes na baixa temporada.
”Uma solução adotada por muitos colegas é fazer uma reserva para quando o ritmo dos negócios diminuir, uma vez que os boletos chegam o ano inteiro”, relata.
Já outros profissionais – grupo ao qual diz pertencer – adotam como alternativa fazer constantemente novos cursos e treinamentos para aumentar seus conhecimentos e, consequentemente, o raio de ação.
Refrigeração, por exemplo, tem demanda 24 horas por dia de segunda a segunda, pois câmaras frias e expositores requerem a mesma atenção o ano todo.
“No meu caso, trabalhar também com micro-ondas igualmente ajuda”, exemplifica Alan, ao pontuar que a melhor forma de aumentar a carteira de clientes é investir na própria capacitação.
Mas se a pessoa só tiver aptidão e gosto para trabalhar com climatização, nem tudo está perdido.
”O negócio é possuir contratos de manutenção, pois isso diminui o risco de quebra brusca no faturamento, frente à sazonalidade histórica de nossa atividade, que é uma realidade desde quando sequer falava-se em extremos climáticos por aqui”, conclui Guimarães.
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