Após quarta semana de revisão para cima nas estimativas para o IPCA, economistas elevam previsões de 4,50% para 4,55% e reforçam projeção de desaceleração na atividade econômica para 2025

Por: Fernanda Strickland – Correio Braziliense / FONTE: DP

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador que mede a inflação oficial, deve ultrapassar o teto da meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5%, pelas projeções do mercado financeiro coletadas pelo Banco Central no boletim Focus, divulgado ontem.

Os dados mostram que os economistas revisaram para cima as expectativas de inflação pela quarta semana seguida, para 4,55%. Essa projeção, se confirmada, será o primeiro estouro da meta de inflação desde 2022, quando o IPCA fechou o ano em 5,79%. Para 2025, a mediana das estimativas para o indicador também foi revisada para cima, passando de 3,99% para 4%, acima do centro da meta, de 3%.

Esse cenário de pressão inflacionária gera apreensão, especialmente em um contexto de retomada de aperto da política monetária, que deverá continuar ao longo de 2025, de acordo com analistas. Em setembro, o Banco Central aumentou a taxa básica da economia (Selic) em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano e as projeções para a Selic no fim do ano foram mantidas em 11,75%. Para 2025, no entanto, o mercado espera uma leve redução da taxa, com projeção para 11,25%.

Analistas ainda melhoraram a projeção para o crescimento da economia brasileira em 2024, de 3,05% para 3,08%, mas mantiveram em 1,93% a estimativa de alta do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025, confirmando a perspectiva de desaceleração da atividade econômica no próximo ano em um cenário de juros mais elevados devido à inflação mais persistente. “A inflação está mais persistentee isso sugere que o Banco Central pode manter uma postura conservadora, evitando cortes agressivos na taxa Selic. E, para a economia brasileira, isso implica um custo de crédito elevado, dificultando o consumo e os investimentos”, destacou Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studi. “No setor de serviços, a persistência de uma inflação alta e a Selic elevada pressionam ainda mais os custos operacionais e limitam o potencial de expansão, afetando o crescimento e a recuperação econômica de forma geral”, acrescentou.

As projeções de inflação acima do teto da meta para 2024 e a manutenção de uma política de juros altos representam desafios adicionais para o país. Uma inflação mais alta pode impactar diretamente o poder de compra da população, além de comprometer o crescimento sustentável no longo prazo. Por outro lado, o esforço para controlar a inflação, mantendo os juros elevados, pode limitar o acesso ao crédito e conter investimentos em setores-chave da economia. Cautela

Enquanto o Banco Central e o governo brasileiro monitoram o cenário, especialistas alertam que a combinação de inflação e juros altos pode manter o país em um ambiente de crescimento econômico moderado, ainda que com algumas oportunidades pontuais de expansão. A estabilidade do câmbio, por sua vez, permanece uma incógnita e dependerá da evolução das políticas econômicas tanto internas quanto externas.

“O aumento das expectativas de inflação acima da meta reforça a necessidade de cautela. Passamos as eleições, agora é hora para o cenário de ajuste fiscal ser mais concreto para inspirar confiança e sustentabilidade no longo prazo. Sem essas medidas estruturais, o risco é de uma economia instável e juros persistentemente altos, que dificultam o crédito e travam o crescimento. Aceitar o aumento como ‘normal’ é perigoso; sem reformas sólidas, há uma chance real de uma espiral inflacionária, o que impactaria diretamente investimentos e valuation das empresas”, apontou João Kepler, CEO da Equity Fund Group. A taxa Selic deverá subir de forma mais agressiva, e o poder de compra do brasileiro deve ser afetado, a popularidade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tende a ser impactada. Considerando também que, nas eleições municipais, tivemos uma má performance do PT diante dos resultados de eleitos, o governo deve se sentir pressionado e tomar providências reais sobre a revisão dos gastos”, disse Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.

A leve melhora na previsão do PIB deste ano, de acordo com analistas, pode estar associada a setores como agronegócio e indústria, que seguem puxando o crescimento, apesar das incertezas no cenário global e das políticas monetárias restritivas que impactam o crédito e o consumo. Contudo, além da desaceleração na economia prevista para 2025, outro ponto que preocupa o mercado é a volatilidade do câmbio.

Conforme os dados do Focus, a previsão para o dólar no fim de 2024 subiu de R$ 5,42 para R$ 5,45. Essa variação reflete tanto o ambiente interno quanto as tensões no cenário internacional, em que a política monetária dos Estados Unidos e as tensões geopolíticas influenciam diretamente o comportamento das moedas de países emergentes. Para 2025, permanece estável em R$ 5,40.

As informações são do Correio Braziliense. 

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