A comunidade financeira global está em alerta máximo para os próximos desenvolvimentos da crise gerada por Donald Trump
FONTE: ME
Patricia Raposo
patricia.raposo@movimentoeconomico.com.br
O cenário atual representa um dos maiores desafios para a economia global desde a pandemia de COVID-19. A guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos, com as retaliações subsequentes de parceiros comerciais importantes como a China, está criando um ambiente de alta volatilidade e incerteza nos mercados financeiros.
A valorização do dólar frente ao real, atingindo R$ 5,91 nesta segunda-feira, reflete este momento de aversão ao risco e busca por ativos considerados seguros. Se as tensões continuarem a escalar, especialmente com as novas ameaças de Trump de aumentar ainda mais as tarifas até quarta-feira, economistas entendem que é possível que vejamos novos movimentos de alta da moeda americana.
A comunidade financeira global está em alerta máximo para os próximos desenvolvimentos desta crise, com especial atenção às decisões que serão tomadas por China e Estados Unidos nos próximos dias, bem como às potenciais respostas de outros países e blocos econômicos afetados, como a União Europeia.
A escalada da guerra comercial a partir das tarifas impostas pelo governo de Donald Trump, tem elevado significativamente as projeções de risco de recessão mundial. O JPMorgan aumentou de 40% para 60% a probabilidade de uma recessão tanto nos EUA quanto globalmente. Outras instituições financeiras, como o Goldman Sachs, já haviam feito movimentos semelhantes anteriormente.
Michael Gapen, economista-chefe do Morgan Stanley, alertou que “tarifas amplas, se mantidas, aumentam significativamente a probabilidade de uma recessão na economia dos EUA e no mundo”, segundo o Investalk. Para o banco americano, a tarifa efetiva sobre as importações dos EUA pode subir para 22%, níveis não vistos em um século – mais do que o dobro da alíquota que o Morgan Stanley previa para 2025.
Trump abre as portas da recessão global
Em entrevista ao UOL, Lucas Ferraz, professor da FGV, também manifestou preocupação ao afirmar que “o grande risco que todos acabam correndo é de termos uma recessão mundial. E isso vai depender muito da reação dos outros países”. Ele destacou que a escalada da guerra comercial será determinante para os impactos econômicos globais.
Em entrevista à imprensa internacional, Christopher Garman, diretor da Eurasia Group para as Américas, avaliou que “o presidente Trump está querendo criar uma muralha tarifária com a visão de que é possível criar um ciclo de reindustrialização, utilizando as receitas das tarifas para poder reduzir impostos”. Segundo ele, as tarifas anunciadas por Trump podem ser reduzidas futuramente para um patamar médio de 15% a 20%, mas não menos do que isso.
Política monetária nos EUA
Diante deste cenário turbulento, analistas começam a reavaliar suas expectativas para as futuras decisões de juros do Federal Reserve (Fed). Alguns analistas já antecipam a possibilidade de maiores cortes de juros pelo Fed este ano como resposta aos efeitos econômicos da guerra comercial global.
Stephen Stanley, economista-chefe do Santander para os EUA, comentou que apesar de dados do mercado de trabalho americano terem sido mais fortes do que o esperado em março (com criação de 228 mil empregos, bem acima das projeções), estes números “não são suficientes no atual contexto volátil para mover a agulha”. A percepção é de que os dados positivos do mercado de trabalho representam “um olhar pelo retrovisor diante dos efeitos esperados com as tarifas de Trump”[2].
Implicações para o Brasil
Para o Brasil, as consequências das tarifas impostas por Trump podem não ser tão drásticas quanto para outros países, segundo avaliação de alguns economistas. O Brasil poderia se beneficiar no mercado chinês, uma vez que produtos agrícolas americanos foram tarifados pela China, abrindo espaço para produtos brasileiros como soja, milho, algodão, carnes e outras commodities agrícolas.
Mas o país não está livre de impactos. Algumas oportunidades comerciais podem realmente se abrir, no entanto, a questão é: como os danos causados ao resto do mundo vão interferir em nossa economia e em nosso politica de juros.
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